quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Uma coleção de gulodices para quem tem fome de palavras

 

 
Isac Nunes [dialogos_lusofonos]"    Junho 29, 2017

[dialogos_lusofonos] Uma coleção de gulodices para quem tem fome de palavras
 
Entrada de uma das lojas da rede de livrarias Foyles, em Londres

 
Escrito por Sérgio Rodrigues
 
A palavra "logoteca" não está nos dicionários. É um neologismo que significa coleção de palavras e que proponho aqui como tradução do inglês "philavery", também um vocábulo inventado.

Acredito que "logoteca" seja uma daquelas traduções que melhoram o original. "Philavery", definido como "coleção idiossincrática de palavras raras e divertidas", foi um termo cunhado sem rigor etimológico pela sogra do inglês Christopher Foyle.

Um mérito ninguém tira do dono da tradicional rede de livrarias Foyles: o de inventar um gênero, o glossário assumidamente afetivo de curiosidades vocabulares. Desde 2007, quando lançou "Foyle's Philavery", ele tomou conta de um pequeno mas bem-sucedido nicho editorial que já lhe rendeu outros dois títulos.

Esbarrei em "Foyle's Philavery" por acaso em Londres, anos atrás. Edição bonitinha, capa dura, formato pequeno, é um daqueles livros feitos para dar de presente que as livrarias, de olho em compras de impulso, costumam exibir ao lado do caixa. Funcionou comigo.

Se a ideia é boa, acho que a realização não ficou à sua altura. Está certo que, para um inglês, as palavras de origem latina que nos soam familiares tendem a ser as mais difíceis, mas é decepcionante encontrar num livro dedicado a vocábulos incomuns verbetes bobos como "decrescent", "evanescent" e "ethereous".

Ficou de todo modo o desejo vago de um dia brincar de logotecário também. A ideia de cultivar palavras raras como plantas de estufa parece cada vez mais excêntrica. A luta pela linguagem clara, pela universalização do direito de compreender, é um imperativo da democracia e vem crescendo mundo afora. Tem o meu apoio entusiasmado.

Acontece que, por isso mesmo, quem mantém com as riquezas vocabulares de qualquer época uma relação mais gulosa e sensual pode acabar se sentindo de dieta. Confesso que, como diria Eça de Queiroz, sou um desses monstros.

Desde que, nos prolegômenos (introdução) da adolescência, aprendi com Erico Verissimo que é coruscante tudo aquilo que reluz, dei para desenvolver um gosto talvez meio perverso pela palavra conspícua (que salta à vista).

A aura hierática (sagrada) que eu via em termos como "lábil" (escorregadio, instável) me transformou num funâmbulo (equilibrista, embora eu adore o "sonâmbulo fumante" sugerido pela minha filha) do léxico, pronto a arriscar uma queda no hermetismo em busca da pulcritude (beleza, por incrível que pareça).

Convém esclarecer: nunca gostei da logodedália (afetação da linguagem) e do estilo campanudo (pomposo) da nossa tradição odorico-paraguaçuense, que o Hino Nacional consubstancia (materializa).

Gostava –e gosto– é da palavra rara mas vadia, solta, coruscante, com sua capacidade de furar e encher de ondas concêntricas um texto, de resto, perfeitamente inconsútil (inteiriço).

Com o tempo fui ficando abispado (precavido). Aprendi que nada deixa o leitor mais atrabiliário (furioso) do que a prosápia (vaidade) de quem não descobriu as virtudes da morigeração (regramento) vocabular.

Tenho minhas recaídas, como se vê. Culpa de Christopher Foyle. Se –ainda?– não lhe dei o mole de escrever um livro baseado em seu "Foyle's Philavery", não é outra a inspiração para a modesta logoteca desta crônica. 
 
[Foto: Tom Morris/Wikipedia - fonte: www.folha.com.br]

O visconde republicano que sonhava com um país feliz

MARIA JOSÉ OLIVEIRA 

Há quem defenda que ele foi um "mecenas" do regicídio. Há quem diga que foi ele quem avisou D. Carlos sobre o atentado. Não há como provar as teorias. Certo é que Ribeira Brava foi um dos mentores do 28 de Janeiro. E que foram apreendidas em sua casa carabinas e pistolas poucos dias antes da morte do rei. É o que dizem os documentos inéditos que revelamos
O visconde da Ribeira Brava estava preso no dia do regicídio. Mas o seu nome não deixou de ser invocado entre os boatos que tomaram conta do país nesses dias após os assassinatos de D. Carlos e do infante Luís Filipe. 
Nas suas Memórias, Raul Brandão escreve sobre um panfleto anónimo que circulava em Lisboa e no qual se podia ler "Morte aos sanguinários Afonso Costa, Alpoim e Ribeira Brava, os verdadeiros assassinos de el-rei e do príncipe real". Muitos acreditavam que o visconde, trisavô paterno de Isabel de Herédia, mulher de Duarte Pio de Bragança, teria sido um dos"mecenas" do regicídio. 
O jornalista e escritor Rocha Martins (no livro O Regicídio, editado pela Bonecos Rebeldes) conta que a 1 de Fevereiro corria o boato de que Francisco de Herédia, um dos filhos do visconde, era um dos regicidas. Depressa se verificou tratar-se de uma falsidade e a família real foi quem primeiro afirmou não acreditar na atoarda. 
Descendente de uma das famílias mais antigas da Madeira, Francisco Correia de Herédia (1852-1918), que recebeu o título de visconde em 1871, teve um notável percurso político. Fundou o concelho da Ribeira Brava, foi deputado, exerceu o cargo de governador civil de Bragança e de Beja, foi presidente da câmara da Vidigueira, juntou-se aos dissidentes progressistas de José de Alpoim, participou na tentativa de golpe de Estado de 28 de Janeiro de 1908. Era um homem "desempenado, espadachim, enérgico, ambicioso", descreve Rocha Martins. 
Um livro lançado recentemente, Dossier Regicídio: O processo desaparecido, de Mendo Castro Henriques, iliba Ribeira Brava de qualquer envolvimento no regicídio, apontando antes que foi o visconde de Pedralva (conspirador do 28 de Janeiro, descrito por Rocha Martins como "um agrónomo gordo que luzia janotismos") quem terá comprado as armas ao armeiro Gonçalo Heitor Ferreira, com loja perto da estação do Rossio. Rui Ramos, na biografia de D. Carlos, nota, porém, que no inquérito oficial sobre o regicídio (o processo continua desaparecido) o nome de Ribeira Brava surge como um dos compradores do armamento utilizado por Manuel Buíça e Alfredo da Costa. O historiador escreve ainda que os dissidentes progressistas admitiram, depois de 1910, que os regicidas "eram homens seus". Mas todos eles repetiram que a conspiração alvejava o presidente do Conselho, João Franco, e que a morte do rei nunca havia sido sequer debatida. 
Apesar de o regicídio permanecer ainda sob muitas sombras, Ramos dá como provado que os mentores do 28 de Janeiro discutiram "um atentado contra o rei" e que Buíça e Costa militavam activamente nos grupos que levaram a cabo a tentativa de golpe de Estado que antecedeu por quatro dias o regicídio. 
Estes assuntos nunca foram tema de conversas familiares entre os seus descendentes. António Gentil de Herédia, bisneto do visconde (filho mais velho do neto varão), afirmou ao P2 que os seus pais e os seus avós "nunca comentaram os acontecimentos". "Sempre foi ponto assente que, não só o visconde não tinha tomado parte no atentado, como teria mesmo mandado o seu filho Sebastião [o mais novo de três irmãos] a Vila Viçosa para avisar o rei de que algo se estava a preparar contra ele", disse, explicando ser esta a versão familiar. 
Sobre as armas que Ribeira Brava terá comprado, António de Herédia admite que as munições se destinavam à "revolução republicana", mas considera como "pura especulação" afirmar que as mesmas seriam utilizadas para matar o rei ou João Franco. 
Preso em Santa Bárbara
As desconfianças em relação a Ribeira Brava não eram de todo infundadas, já que o visconde havia sido um dos líderes da tentativa de golpe de Estado de 28 de Janeiro. Foi preso, aliás, na sequência dessa revolta. E alguns meses antes, em Agosto de 1907, fora acusado do crime de sedição. 
No relato de Rocha Martins sobre os acontecimentos do dia 28 é a inexperiência dos revoltosos que causa algum desconcerto. O jornalista nota que não faltava material para a revolução - bombas, espingardas e pistolas que, guardadas nos Armazéns Leal, seriam utilizadas nos assaltos aos quartéis. 
A denúncia feita por um guarda a quem foi confiado o segredo levou à necessidade de transferir as munições para outro local. "O visconde da Ribeira Brava, apesar da sua idade [56 anos], era dos que mais audaciosamente se moviam; mostrava audácias intensas, desempenamentos românticos", conta Rocha Martins. 
Quando a polícia cercou os armazéns, foi o visconde quem arriscou resolver o problema: "disfarçando-se" de freguês entrou na casa comercial, ordenou que enrolassem as munições em tapetes e levou-os para sua casa. A revolução poderia concretizar-se. Mas os conspiradores não contavam com as detenções de França Borges, João Chagas e António José de Almeida. Os membros da Maçonaria e da Carbonária não idolatravam Afonso Costa (próximo do círculo de Ribeira Brava e Alpoim) como o faziam com António José de Almeida. 
A intriga adensara-se e reinava a confusão entre os conspiradores. A data e a hora da revolta foram marcadas em casa de Ribeira Brava: 28 de Janeiro, às 4 da tarde, na Baixa da capital. Ribeira Brava falava em "república", para temor de alguns dos dissidentes progressistas, que preferiam, como Alpoim, uma "monarquia nova". 
Os passos da rebelião foram gizados por Costa e Ribeira Brava - a proclamação da República seria feita no município. E o tiro de alerta para os revoltosos seria disparado de um lugar alto, tendo sido escolhido o elevador da Biblioteca (ou do Município, no Largo das Belas Artes), pertencente ao visconde do Ameal, também oposicionista. 
O sinal só deveria acontecer depois do rapto de João Franco, feito por um grupo que iria esperá-lo à porta de sua casa. A todos os líderes da revolta foram atribuídas competências - Ribeira Brava ficaria responsável pelo Terreiro do Paço e pela ocupação dos ministérios. 
O golpe falhou logo na intenção de raptar Franco - tudo por causa de uma troca de moradas. E quando um guarda municipal viu alguma confusão junto ao elevador, alertou de imediato as autoridades. Alguns dos chefes da revolta conseguiram escapar (Alpoim e Pedralva, por exemplo), mas outros não tiveram tempo para sair do ascensor, onde estavam encafuados. Entre eles estava Ribeira Brava, que foi detido juntamente com Costa e Egas Moniz. 
Foram conduzidos para os calabouços do Governo Civil, mas, temendo a revolta dos maçons e dos carbonários, foram transferidos para quartéis. Ribeira Brava ficou preso no quartel de Santa Bárbara, numa cela com uma tarimba, uma bilha, um púcaro e uma manta, contam os jornais da época. Ficou naquele lugar apenas duas noites. Debilitado e atacado por uma pleurodinia acabou por ser transferido para um quarto. Saiu de lá a 6 de Fevereiro e apenas nesse dia terá sabido, conta O Século, da morte de D. Carlos e do príncipe Luís Filipe. 
Carabinas apreendidas 
O processo judicial de 28 de Janeiro (2º distrito criminal da comarca de Lisboa) está depositado no Fundo Crime Antigo de Lisboa, na Torre do Tombo, ainda não catalogado. Numa das muitas caixas com processos referentes a 1908, o P2 encontrou o maço de folhas, atadas por um cordel, em que estão os autos contra Afonso Costa, Francisco de Herédia, Egas Moniz, Pinto dos Santos e José Calzado. 
O relatório da Polícia Civil, apenso ao processo, nota que, no "pavimento inferior" do ascensor da Biblioteca, os detidos tinham em sua posse "armas proibidas", tendo sido apreendidas caixas com balas, dinheiro, mapas da cidade e correspondência de Costa. 
Uma busca feita à residência de Ribeira Brava, na rua Barata Salgueiro, resultou na apreensão de diversas armas (duas carabinas, um par de pistolas, uma espada e dois floretes), mas o visconde deu respostas lacónicas sobre o assunto. No auto de perguntas, datado de 29 de Janeiro, garantiu que nunca tinha feito parte de qualquer "conspiração ou conjuração". "E mais não disse", lê-se. 
Os depoimentos prestados pelas testemunhas, na sua maioria polícias, contradiziam as palavras de Ribeira Brava. Mas o processo não passou da fase de instrução. A 5 de Fevereiro foi publicado um decreto que ordenava a libertação dos presos políticos envolvidos no golpe de 28 de Janeiro. E no dia seguinte Ribeira Brava e os companheiros estavam já na rua, atónitos com a notícia do regicídio, revelaram os jornais. 
O decreto de 5 de Fevereiro terá feito respirar de alívio o visconde, que certamente não queria repetir a experiência em que se viu envolvido no Verão do ano anterior, quando fora acusado do crime de sedição numa acção judicial que só terminou no Supremo Tribunal de Justiça (STJ). 
Na Torre do Tombo podem ler-se as mais de 200 folhas que constituem o processo e no qual eram também arguidos Alpoim, Costa, António José de Almeida, França Borges e mais dez oposicionistas. O auto reporta aos tumultos que tomaram conta da estação do Rossio na noite de 18 de Junho de 1907, por ocasião da chegada de João Franco de uma visita ao Porto. Dezenas de testemunhas afirmaram, como se pode ler, que a "algazarra" começou com "vivas à liberdade e à República". A Guarda Municipal entrou pela estação dentro e evacuou a gare, mas teve de se confrontar com a resistência dos manifestantes. Que erguiam as bengalas "em atitude agressiva". O visconde estava entre a turba que protestava. 
A 7 de Agosto o juiz Vicente Ferreira emitiu um mandado de captura contra Ribeira Brava, que, no interrogatório do dia seguinte, desferiu ataques ao Governo do "ditador João Franco". Explicou que a sua presença na estação deveu-se ao facto de ter lido, nos "jornais do Governo", que ali iria realizar-se uma manifestação de apoio a Franco. Ora, sendo um "cidadão livre e democrata", entendeu que tinha "a obrigação de provar que a maioria do país" repudiava "o despotismo e o arbítrio" que governava Portugal. Em tom que se adivinha irónico ressalvou que se manifestou "de forma ordeira" apenas por "respeito" a Alpoim. Porque, na verdade, "o seu pensamento e o seu sentir iam mais além". 
Foi libertado após ter pago uma fiança de 200 escudos, mas viu o processo arrastar-se até ao final do ano. O STJ confirmou, em Dezembro, a decisão do Tribunal da Relação, que absolveu todos os arguidos do crime de sublevação. 
Morto na rua
Quando assistiu à concretização do sonho republicano, em 1910, escreveu a um amigo madeirense que finalmente vivia num "país feliz". Mas, conta o seu bisneto, nunca quebrou as relações com a família real, tendo mesmo pedido ao seu filho Sebastião para "abastecer o carro" de D. Manuel II para que o monarca pudesse deslocar-se para a Ericeira. 
Contudo, a vida de Francisco Correia de Herédia Ribeira Brava (assim passou a assinar após abolição dos títulos nobiliárquicos, em 1910) teve um final trágico: a 16 de Outubro de 1918, durante o regime ditatorial de Sidónio Pais, é morto na rua Serpa Pinto. 
Existem várias versões sobre os acontecimentos desse dia. Certo é que Ribeira Brava, então filiado no Partido Republicano Português, estava entre os mais de 100 presos que eram conduzidos desde o Governo Civil até ao Cais do Sodré, onde embarcariam para vários fortes. Os jornais divergiram quanto à origem do tiroteio que provocou seis mortos: uns diziam que o primeiro tiro fora disparado por um polícia contra os populares que assistiam ao cortejo dos presos, outros asseguravam que havia sido Ribeira Brava o primeiro a desfechar uma pistola que recebera camuflada num tacho de açorda. 
Francisco de Herédia tinha 66 anos. O seu funeral primou pela discrição e apenas a família assistiu ao enterro. Está sepultado no jazigo da família Herédia, no cemitério dos Prazeres. 
Inline imageFrancisco Correia de Herédia, 1.º Visconde da Ribeira Brava

Francisco Correia de Herédia a celebrar a implantação da República Portuguesa.


 

Origem da palavra saloio

Francisco Amorim,  Julho 7, 2017     Etnografia - ORIGEM DA PALAVRA SALOIO

Saloio : do árabe çahrauii, ou çarhoi = homem, habitante do deserto
 
Etnografia - ORIGEM DA PALAVRA SALOIO
 
Designa-se como saloio o habitante natural das zonas rurais do início do século XX em volta de Lisboa, a região saloia. A região saloia compreende vários concelhos, sendo os seus limites discutíveis. Alguns autores definem como região saloia os concelhos de Alenquer, Amadora, Arruda dos Vinhos, Cadaval, Loures, Mafra, Odivelas, Sintra, Sobral de Monte Agraço e Torres Vedras.
 
 ORIGEM DA PALAVRA SALOIO
 
Quando D. Affonso Henriques conquistou Lisboa aos mouros, para não despovoar a terra, deixou-os ficar de posse de seus bens e casas, impondo-lhes certos tributos. Este beneficio e tolerancia, que a politica e a humanidade aconselhavam, se estendeu aos logares circunvisinhos da cidade. Esta foi logo augmentando em população christã, que em si absorveu a mourisca pelo decurso dos tempos, o que não era tão facil no campo. Dizem que a estes mouros dos arredores davam antigamente o nome de Çaloyos ou Saloios, tirado do titulo da reza que repetem cinco vezes no dia, chamada çala. Ficou subsistindo o nome, ainda depois de povoados esses logares por christãos; e talvez da mesma origem proviesse um antigo tributo que se pagava do pão cosido em Lisboa e seu termo, e que era conhecido pela denominação de çalayo.
 
in O Panorama, 21 de Abril de 1838 (O panorama : jornal litterário e instructivo da Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Úteis)
 
Saloias, por Silva Porto(1850-1893)
 

Investimento brasileiro em Portugal cresceu 7% em 2017

O investimento direto do Brasil em Portugal ultrapassava os 3 mil milhões de euros em setembro. O Brasil é o sexto maior investidor estrangeiro em Portugal e o maior de fora da Europa.

Jorge Horta


FOTO: FCTUNL
O investimento direto do Brasil em Portugal ascendia a 3.074 milhões de euros no final de setembro, o que corresponde a um crescimento de 7% em relação à posição que se verificava no final de 2016 e a um aumento de 204 milhões de euros em termos absolutos, segundo os dados do Banco de Portugal.
No final do terceiro trimestre o Brasil conservava o estatuto de sexto maior investidor em Portugal e de maior investidor não europeu. À frente do investimento brasileiro no mercado português estão apenas a Holanda (30 mil milhões de euros), Espanha (24,5 mil milhões), Luxemburgo (23 mil milhões), Reino Unido (9,2 mil milhões) e França (6,5 mil milhões).
Também no final de 2016 o Brasil ocupava a sexta posição na lista de investidores estrangeiros em Portugal, à época liderada igualmente pela Holanda (28,5 mil milhões de euros) e Espanha (25,6 mil milhões), de acordo com as estatísticas publicadas pelo Banco de Portugal.
Globalmente, o investimento direto estrangeiro em Portugal somava 120,4 mil milhões de euros em setembro, mais 7% do que o registado no final de 2016.
O relacionamento económico entre o Brasil e Portugal tem crescido nos últimos anos. Embora o comércio bilateral tenha sofrido um arrefecimento, o mercado brasileiro é um dos maiores emissores de turistas estrangeiros para Portugal, sendo também um dos grandes emissores de pedidos de “vistos gold”, as autorizações especiais de residência para quem invista pelo menos 500 mil euros na compra de imóveis em Portugal ou 1 milhão de euros noutros tipos de investimento, com criação de emprego.

Investimento português no Brasil estável

O investimento direto de Portugal no Brasil este ano estabilizou. Segundo o Banco de Portugal, o investimento luso no mercado brasileiro passou de 2,76 mil milhões de euros no final de 2016 para 2,78 mil milhões em setembro último.
A posição global do investimento de Portugal no exterior passou de 54,6 mil milhões de euros no final de 2016 para 54,3 mil milhões no mês de setembro.
Holanda e Espanha são os países em que Portugal tem mais capital investido, com 17,2 mil milhões de euros e 13 mil milhões de euros, respetivamente.

domingo, 21 de janeiro de 2018

Raul Mesnier de Ponsard, o homem dos elevadores

Elevador Stª Justa - Lisboa e  Raul Mesnier de Ponsard, o homem dos elevadores

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Elevador Stª Justa - é um sistema de transporte público, situado no centro da cidade de  Lisboa, no distrito de mesmo nome, em Portugal. 
Liga a Rua do Ouro e a Rua do Carmo ao Largo do Carmo e constitui-se num dos monumentos mais interessantes da Baixa de Lisboa.

Nomes alternativosElevador do Carmo
Estilo dominanteNeogótico
EngenheiroRaoul Mesnier du Ponsard(1)
Início da construção1900
Fim da construção1901
Inauguração1902
Património Nacional
Classificação Monumento Nacional
Data2002
DGPC70141
SIPA3146
Geografia
PaísPortugal
CidadeLisboa
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 Raul Mesnier de Ponsard (1848-1914, Porto) foi um engenheiro português, de origem francesa e discípulo do célebre Eiffel conhecido por ter construído muitos elevadores e funiculares em Portugal.

Foi o autor de uma obra - pioneira na Península Ibérica - que haveria de constituir um estrondoso sucesso, granjeando-lhe a correspondente reputação: o elevador do Bom Jesus, em Braga. Na sua concepção, Raul Mesnier aplicou o sistema desenvolvido por Riggenbach - que esteve em Braga, em 1884, para assistir à inauguração - na construção de ascensores e locomotivas de montanha, com pleno sucesso, uma vez que o elevador ainda hoje se encontra em pleno funcionamento, nunca tendo sofrido algum acidente.
Raul Mesnier conheceu um êxito enorme em Lisboa. Na capital, construiu o primeiro ascensor, ligando a Calçada do Lavra ao Campo de Santana, inaugurado em 19 de Abril de 1884, e que ainda hoje se encontra ao serviço. Nesse dia, dado que a viagem era gratuita, transportou mais de 3 mil passageiros, tendo funcionado 16 horas consecutivas. Tal como o do Bom Jesus, do qual era contemporâneo, funcionava inicialmente pelo sistema de cremalheira e por contrapeso de água, tendo sido electrificado em 1910.O sucesso obtido com a construção do ascensor do Lavra foi de tal envergadura que quase se pode dizer que Raul Mesnier nunca mais parou de construir elevadores: seguiram-se o ascensor da Glória - ainda ao serviço - ligando a Avenida da Liberdade à Rua de S. Pedro de Alcântara, inaugurado em 1885; o ascensor da Bica - também em actividade - ligando a Rua de S. Paulo ao Largo do Calhariz, inaugurado em 1888; o da Praça de Camões ao Largo da Estrela (1890); o da Rua do Crucifixo à Rua Garrett (1892); o da Graça (1893); o do largo de S. Julião ao Largo da Biblioteca (1897); o de S. Sebastião da Pedreira (1899). Estes últimos já não existem há muito tempo.Será, contudo, com o elevador de Santa Justa que Raul Mesnier conhecerá a sua máxima notoriedade. Dispondo de um passadiço metálico que o liga à Rua Nova do Carmo, e que constitui um dos seus elementos mais importantes, o elevador de Santa Justa - inaugurado em 10 de Julho de 1902 - foi concebido em estilo neogótico, constituindo uma dos mais notáveis monumentos da arquitectura do ferro existentes em Portugal. Frequentemente atribuído a Eiffel - como todas os monumentos, existentes neste país, que apresentem estruturas metálicas -, o elevador foi concebido e construído por Raul Mesnier, um portuense cujo nome, ironicamente, ficou mais ligado a Lisboa do que à sua cidade natal.Uma outra faceta de Raul Mesnier, ainda mais desconhecida, prende-se com a sua actividade como inventor, num domínio muito particular: o das armas de fogo. Em 1879, quando ainda vivia no Porto, publicou nesta cidade nada menos do que cinco projectos de novas armas de fogo, de sua invenção. Para além de inúmeras modificações e melhoramentos, aplicáveis a armas já existentes no mercado, e de fabrico estrangeiro, Raul Mesnier concebeu também um projecto de uma nova espingarda de guerra, e um novo método de obturador para espingarda de guerra, de carregar pela culatra, que chegou a ser construído, sob sua direcção, na fábrica de armas do Arsenal do Exército.Uma das suas invenções mais notáveis - que valeria a pena recordar mais aprofundadamente - foi o "Aritmotecno", uma máquina destinada a executar todas as operações aritméticas com um rigor absoluto e uma inexcedível rapidez - uma precursora das actuais máquinas de calcular -, a qual o próprio apresentou no Porto em 1882, tendo para o efeito editado uma pequena publicação onde explicava o seu funcionamento.
in Jornal Público ,O homem dos elevadores  por  
JOSÉ MANUEL LOPES CORDEIRO, 
2 de Maio de 1999

Amílcar Cabral: homem de acção e de palavra

Amílcar Cabral: hombre de acción y de palabra

Hoy se cumplen 45 años del asesinato del padre de Guinea-Bissau y Cabo Verde


El líder Amílcar Cabral, en una imagen de 1971.
El líder Amílcar Cabral, en una imagen de 1971. GETTY IMAGES AFP

Hoy se cumplen 45 años del asesinato de Amílcar Cabral, gran exponente de la época de independencias en África e ingeniero agrónomo que dedicó su vida a la consecución de la libertad de su pueblo, el de Guinea-Bissau, hermanado al de Cabo Verde (sus padres eran de allí). A ambos países buscó unir en la lucha por la independencia y como naciones soberanas, aunque la muerte le impidió consumar el sueño de ver eliminado el colonialismo portugués (la independencia de Guinea-Bissau fue declarada en forma unilateral el 24 de septiembre de 1973).
El Estado fascista portugués de entonces es el responsable del asesinato de uno de los fundadores del Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), organización creada en 1956 como su par de Angola, el Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) o, más tarde, el Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO). De todos estos, el de Cabral fue el mejor organizado y el que con más facilidad infringió derrotas al ejército portugués. El dirigente se convirtió en el indiscutido referente militar en contra del colonialismo luso y coordinador de esa lucha en el Movimiento Anticolonial (MAC), creado en 1957.
En enero de 1963 comenzó la guerra en Guinea que obligó al Estado portugués a reemplazar cuatro veces al gobernante militar de la colonia. En noviembre de 1973, los avances bélicos del PAIGC (que controlaba la mayor parte del territorio y perfilaba las bases del Estado independiente) más la presión internacional, obligaron a que Lisboa reconociera Guinea como Estado soberano. Portugal reconoció su independencia entre el 26 de agosto y el 10 de septiembre de 1974, meses más tarde de la famosa Revolución de los Claveles en la metrópoli, que también generó turbulencias en Cabo Verde y allanó el camino a su independencia, el 5 de julio de 1975. De la liberación a la unidad de ambos países, siguiendo la idea panafricanista de Cabral, aunque la fractura llegara en 1980.
Cabral dirigió una de las pocas luchas en donde un pueblo derrotó al colonizador y alcanzó la libertad, hecho ignorado muchas veces. La proclamación unilateral de independencia, anunciada por el líder guineano el 8 de enero de 1973, fue lo que le costó su asesinato. Su objetivo fue mostrar al mundo que la ocupación colonial era ilegítima. Para ello comandó el combate y empuñó las armas, además de la palabra. Como orador, dejó una importante serie de discursos, que fueron más tarde editados por el partido y sus simpatizantes, pues en vida no tuvo tiempo de hacerlo él.
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